quinta-feira, março 10, 2011

Eles pedem, nós fazemos.



.
Os serviços públicos estão superlotados.
Em hospitais fora da medicina privada, os serviços de ecocardiografia não dão vazão ao número de pedidos das enfermarias.
Aí, o ecocardiografista pode cair em uma terrível armadilha.
Passa a julgar a necessidade ou não do exame para cada paciente.
Porém, o interesse do paciente é o único a ser levado em prioridade.
E quem cuida do paciente é o médico dele, e não o ecocardiografista!
.
O ecocardiograma transtorácico é um exame de baixo custo e absolutamente sem riscos.
Assim, quando o médico do paciente o solicita, cabe ao ecocardiografista realizar o exame assim que possível.
Pode fazer outros mais graves antes? Pode. Mas não deve questionar a indicação do exame isoladamente.
O serviço está lotado, não dá para encaixar esse exame? Tudo bem, mas deixe o pedido para fazer assim que houver vaga.
.
O ecocardiografista não deve dar "aulas" de indicações do exame no corredor do hospital.
Não deve negar a indicação de um pedido e ir para casa enquanto o colega, que na verdade pediu sua ajuda, procura sozinho o melhor tratamento para o paciente.
.
O volume de exames transtorácicos pedidos na região de Campinas aumentou 5 vezes no setor privado e 3 vezes no setor público. A demanda está em alta frenética.
.
Seu serviço não está capacitado? Peça ajuda à direção do hospital para aumentar a produtividade.
Os pedidos não são bem indicados? Faça aulas e discussões com as outras disciplina. Ensine a instituição inteira a pedir adequadamente.
.
A relação médico-médico não deve ser medida por suposto conhecimento superior.
Deve ser medida pela educação e busca do benefício para o paciente.
.
Novo código de ética:
É direito do médico:
II - Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação vigente.
.
É vedado ao médico.
Art. 52. Desrespeitar a prescrição ou o tratamento de paciente, determinados por outro médico, mesmo quando em função de chefia ou de auditoria, salvo em situação de indiscutível benefício para o paciente, devendo comunicar imediatamente o fato ao médico responsável.
.
Mas esse problema só ocorre em serviços públicos...

4 comentários:

  1. Caro Prof Roberto, acho que existem algumas faces nesta moeda... Não acho que negar-se a um exame seja o correto, porém acho que pedidos desnecessários podem ser evitados. A medicina tecnicista ensina ao médico que todas as respostas serão dadas pelos exames, e isso é passado ao paciente e aos familiares. O fato de não conseguir encaixar um exame na agenda pode gerar uma situação, no mínimo, desconfortável para o ecocardiografista. "Bom, eu pedi o exame, o médico que não veio fazer...", justificar-se-ia um mau colega aos mais interessados no exame. Concordo que esta prática seja mais comum no serviço público, porém também ocorre no serviço privado, talvez por outros motivos, tais como repetição de exame sem critério ("Gostaria de ver se a fração de ejeção melhorou...", "Só pra dar uma olhadinha aí de novo..."), extrapolação do exame (em busca de informações que fogem ao escolpo do método, etc. A educação médica continuada pode ajudar, mas talvez não seja a resposta final. Muitos médicos sentir-se-iam questionados ("Tão qurendo me ensinar a pedir o exame?"). Já vimos exemplos destes aqui no nosso serviço. Recentemente foi publicado o seguinte artigo, o qual recomendo a todos os médicos (Cardiologistas clínicos e ecocardiografistas): Appropriateness Criteria Are an Imprecise Measure for Repeat Echocardiograms - Echocardiography 2011;28:131-135, cuja conclusão é esta: Inappropriate repeat echocardiograms are ordered more frequently than first time studies. A significant proportion of repeat echocardiograms do not appear to be justified, and often yield no new echocardiographic findings. Our data suggest that current appropriateness criteria might benefit from further revision with particular regard to justification for repeat studies.

    Abraço
    Fábio Soares - Bahia
    http://ecobahia-mitoseverdades.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. Não questiono de maneira alguma a autonomia do médico, apenas acho que nestes casos não é válida a lei do tudo-ou-nada.
    Abraço.
    Fábio Soares

    ResponderExcluir
  3. Caro Roberto , concordo com o Fábio Soares. Por aqui no Rio o problema também parece ser de status. Status do médico que consegue um exame a qualquer horário. Em 6 anos de sobreaviso somente uma vez fui devidamente chamado em hora estranha (5:30am) por causa de um pré-tamponamento cardíaco , inclusive com o cirurgião . Chamam-me até para diagnóstico diferencial entre IAM e dengue pelo ecocardiograma! Nas clínicas particulares não existe a conversa de que o exame será feito no dia seguinte em horário oportuno.
    Por mais que ache banal , em meu horário de serviço habitual não questiono nada. Pedem exames mais exdrúxulos possíveis , com indicações bizarras , mas em meu horário faço. Meu questionamento vai para indicações duvidosas em horários difíceis. Ora , Rio de Janeiro não é Viena ou Frankfurt que se pode sair pela noite sem problemas . Tem risco para a minha integridade. Muitas vezes o médico de clínica cara aqui pede os exames antes de sequer examinar o paciente : ele recebe a ligação ; pede para a família levá-lo ao hospital ; pede aos plantonistas examinarem o paciente para ele; já chega com vários exames solicitados como ECG, ECO , TC ,RNM ; porfim chega no dia seguinte no hospital em horário comercial apenas para tentar descobrir o que aconteceu e o que foi detectado nos exames . Não foi essa inversão de valores clínicos que faliu a medicina americana? O que descrevi , tristemente , é praxe em hospitais particulares no Rio e não creio que seja diferente em outras capitais . Pergunto-me : porque nos hospitais públicos os pedidos tem indicações reais e nos particulares não?
    Para que pedir arterial e venoso das 2 pernas se a paciente tem edema em apenas 1?
    Para que pedir ecocardiogramas seriados em paciente no CTI , em ventilação mecânica para avaliar a VCI?
    Para que pedir doppler venoso do membro com TVP todos os dias durante a internação do paciente , enquanto ajusta dose de cumarínico?
    Concordo que os médicos tem de ter liberdade , mas também poderiam ter a flexibilidade de aguardar pelo dia seguinte em exame que não seja de urgência. Será feito .

    ResponderExcluir
  4. Muito interessante a opinião dos dois colegas e tem razão ao expô-las.
    De fato, muito exames não servem para nada e fora de hora, então, nem se discute.
    Apenas sou a favor de assumirmos o problema.
    Eles não sabem pedir, nós não sabemos ensinar a pedir.
    É mais uma chamada à ação.
    Abraço

    ResponderExcluir

Comentários com críticas diretas a marcas e pessoas só serão publicados quando forem devidamente identificados